domingo, 6 de abril de 2008

venda de automóveis Pelo terceiro pregão em seqüência, os juros caíram ontem no mercado futuro da BM&F

Pelo terceiro pregão em seqüência, os juros caíram ontem no mercado futuro da BM&F. E não faltavam pretextos para uma interrupção do declínio. O primeiro foi o IPC FIPE de março [0,31%] acima do teto das projeções [0,30%], em aceleração comparativamente a fevereiro, quando subiu 0,19%. O outro era ainda mais forte: ontem foi dia de leilão primário de títulos públicos prefixados e as instituições gostam de puxar os DIs correspondentes para valorizar suas propostas. Não conseguiram. E as 3 milhões de LTN oferecidas pelo Tesouro, no valor de R$ 2,403 bilhões, foram vendidas por juros menores que os aceitos no leilão passado. A expectativa de concessão em breve do grau de investimento ao Brasil, a melhora [sem volatilidade] dos pregões americanos e a intenção da Fazenda de trocar parte do aperto monetário acenado pelo Banco Central por algum corte de gasto não deixaram o juro futuro subir. O CDI previsto para a virada do ano caiu de 12,33% para 12,29%. A taxa para janeiro de 2010 cedeu de 13,17% para 13,12% e a estimativa para janeiro de 2012 passou de 13,25% para 13,18%. Apesar das quedas, a estrutura a termo dos juros persiste refletindo a perspectiva de alta imediata da taxa Selic. --------------------------------------------------------------------------------Aperto light e rápido não eleva custo do crédito --------------------------------------------------------------------------------Está tudo preparado: o Copom subirá a Selic de 11,25% para 11,50% no dia 16 de abril. O que acontecerá com a economia? Rigorosamente nada, a não ser um leve e inconseqüente impacto psicológico derivado do fato estatístico de que não há um endurecimento monetário há três anos. A última alta da Selic - de 19,50% para 19,75% - ocorreu no Copom do dia 18 de maio de 2005. Resultado prático e efetivo de uma alta no dia 16, nenhum. Isso porque o Copom irá apenas sancionar a alta do juro privado e do custo dos empréstimos que já vigora no mercado. As taxas dos DIs futuros, do swap de 360 dias e dos financiamentos não subirão se o BC elevar o juro básico em 0,25 ponto no dia 16. Mesmo uma alta não prevista e ainda não precificada nos contratos de 0,50 ponto pode não ser capaz de provocar uma ampliação efetiva do custo do dinheiro. O mercado pode entender que ao começar o ciclo de aperto monetário por meio de um avanço mais vigoroso da taxa o BC tem a intenção de encurtar a sua duração. Nessa hipótese, os juros longos até caem. Se o Copom quiser de fato promover um endurecimento efetivo e não precificado terá de dar uma paulada no juro. Isso está fora de cogitação. Tanto técnica quanto politicamente, um golpe único e violento não se mostra viável ou necessário. Portanto, não se deve esperar muita cosia do próximo Copom, a alta do juro já foi feita e, visivelmente, a economia persiste rodando a uma velocidade de cruzeiro alta mas confortável, sem solavancos ou perda de estabilidade. O Ministério da Fazenda pode estar gastando discurso heterodoxo à toa: três ou quatro altas de 0,25 ponto, já plenamente precificadas na curva futura de juros e incorporadas aos 12,58% do swap de 360 dias [piso do crédito], não são capazes de dar um cavalo-de-pau na economia. Nem atrair mais dólar do que já entrou nos últimos quatro anos. O fato é que, após o trauma do subprime e ameaça de atuações fiscalizatórias antineoliberais por parte do Federal Reserve [Fed], a farra de liquidez dos hedge funds jamais será a mesma. O mercado já se acostumou à idéia de elevação da Selic em 0,25 ponto no dia 16. Se a Fazenda aceitar o fato talvez não seja necessário ampliar o aperto. As instituições estão, como o BC, tão convencidas da necessidade de se aumentar o juro básico que, mesmo diante de uma notícia muito positiva, como a divulgada ontem - a queda do nível de utilização da capacidade instalada [NUCI] da indústria - não se volta atrás. De acordo com a CNI, as horas trabalhadas na produção cresceram 1,8% em fevereiro comparativamente a janeiro e 8,8% sobre fevereiro de 2007. Mesmo assim, o NUCI caiu de 83,1% em janeiro para 82,9% em fevereiro. Apesar da forte expansão registrada pela produção industrial desde setembro, o NUCI mostra-se estabilizado em patamar alto. Isso só é possível por causa dos investimentos feitos e dos ganhos de produtividade obtidos. Em relatório a clientes destinado a comentar os ótimos resultados industriais, o Departamento Econômico do Bradesco enfatiza que 'a produção e a importação de bens de capital apontam para a continuação da ampliação da capacidade produtiva da economia brasileira'. A despeito disso, na opinião do banco, 'os indicadores industriais divulgados nessa semana mostram que a atividade fabril segue bastante aquecida nesse começo de ano e reforçam nossa aposta em um aumento de 0,25 ponto percentual da taxa Selic na próxima reunião do Copom'. Luiz Sérgio Guimarães é repórter de finanças

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