domingo, 6 de abril de 2008

Responsabilidade social é também educar financeiramente

Responsabilidade social é também educar financeiramente
ECONOMIA - quinta-feira, 3 de abril de 2008 00:00( http://www.valoreconomico.com.br ) 12 Visitas
Como veterano planejador financeiro, sempre estive interessado nos diversos aspectos ligados à educação financeira, a melhor maneira de um povo cuidar do dinheiro ganho, do próprio orçamento doméstico para, assim, poder almejar uma vida melhor. Do ponto de vista da macroeconomia, quanto maior o consumo dos seus cidadãos, maior o PIB e, conseqüentemente, maior será a satisfação de estudiosos, estatísticos e economistas do governo e da iniciativa privada. Mas, o que interessa mesmo a cada cidadão individualmente é a microeconomia, ou seja, de que maneira poderá administrar mais eficientemente suas próprias finanças. Ele raramente se planeja, agindo quase sempre por impulsos, tendo geralmente como conduta padrão gastar mais do que ganha. Culpa da falta de cultura financeira ou da inflação passada? No passado não remoto, vivemos a conhecida e gigantesca inflação em que, de fato, era melhor adquirir algo imediatamente e ficar devendo, mesmo pagando elevados juros, em vez de poupar o valor necessário para posteriormente adquirir à vista um bem de consumo. A inflação desmedida que tivemos ainda em um passado recente é página virada e hoje, felizmente, somos um país bem mais normal, com taxas inflacionárias menores de 5% ao ano, índice este bastante próximo do de países considerados desenvolvidos. Lamentavelmente, grande parte da nossa gente ainda não conseguiu condicionar a cabeça para esta nova realidade e adotar práticas mais condizentes com os dias atuais. Devido justamente ao nosso passado inflacionário, coletivamente esquecemos o que deveria ser considerado um comportamento financeiro normal e, portanto, consistente e em linha com a atual evolução do país. Enquadrar-se em um orçamento que leva em conta apenas as receitas habituais de alguém, é uma atitude não somente salutar, mas imprescindível para quem não deseja estar sujeito a constantes sobressaltos financeiros. Comprar à vista com dinheiro, pagar com cheque [que não seja o pré-datado] ou cartão de débito, endividar-se só para projetos importantes, lamentavelmente, caiu em desuso no país ou, em outras palavras, é considerado antiquado. A nova filosofia, tão em voga entre nós, prega e incentiva excessivamente crédito, empréstimos, endividamento, consumismo, etc. Entretanto, na maioria dos países, ditos do primeiro mundo, endividar-se no médio ou longo prazos é prática utilizada quase unicamente para a aquisição da própria moradia ou, eventualmente, para a aquisição de um veículo, porém quase nunca para a aquisição de bens de consumo de primeira necessidade. Chamo a atenção para o fato de que não tenho a intenção de discorrer a respeito do abuso que ocorre no Brasil em relação às taxas de juros elevadas. Nessa polêmica, o governo acusa a iniciativa privada, a iniciativa privada acusa o governo e quem acaba pagando a conta são os segmentos populacionais, que necessitam de crédito e de empréstimos. Dessa maneira, o jogo de empurrar a culpa de uns para outros vai se perpetuando. Em um planejamento cuidadoso e bem feito, na qual as despesas do orçamento doméstico estão diretamente condicionadas às receitas do trabalho de um autônomo ou frutos do vínculo empregatício de um trabalhador com carteira de trabalho assinada, faz-se necessário conhecer os precisos limites financeiros e de endividamento de cada cidadão. Deve ficar absolutamente claro aos interessados que, nos dias de hoje, qualquer pessoa que tenha receitas mensais sob medida, ou melhor, dito inelásticas, não pode se dar ao luxo de pagar uma importante parcela de seus ganhos com despesas financeiras, independente de qual tenha sido a taxa de juros que tenha pago. Essa prática, nociva do dispêndio de parte dos ganhos com juros, que deveria pertencer ao passado, não é absolutamente condizente com as atuais condições socioeconômicas do país. Ao adotar essa política cega e suicida, simultaneamente ocorre grande perda de qualidade de vida por parte de quem a pratica. Resulta inclusive, em jamais existir qualquer folga para gastar em outros itens relevantes do orçamento como mais lazer, alimentar-se melhor, em suma, melhores condições gerais de vida de um indivíduo ou família. Mas, então, a quem deveria caber a responsabilidade social de explicar todas estas verdades tão cristalinas às diferentes classes sociais, justamente aquelas que tanto necessitam desses ensinamentos? Quem deveria explicar à nossa população que os tempos são outros e de que geralmente é um péssimo negócio endividar-se em função de alguns itens, muitas vezes completamente prescindíveis do orçamento doméstico? Louis Frankenberg é diretor de planejamento e finanças pessoais da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade [Anefac] e autor do livro 'Sucesso e Independência' E-mail: perfinpl@uol.com.br Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Nenhum comentário: