domingo, 6 de abril de 2008

venda de automóveis - Um dia na Fiat, maior fábricade automóveis do mundo

Um dia na Fiat, maior fábricade automóveis do mundo
FIAT - quinta-feira, 3 de abril de 2008 00:00( http://www.gazetamercantil.com.br ) 26 Visitas
Na manhã do último dia 26 de março, um carro novo foi produzido a cada 45 segundos na Fiat, em Betim. Graças a essa velocidade alucinante para se montar uma mercadoria com milhares de peças, a empresa construiu 717 mil veículos no ano passado e se tornou, na prática, a maior fábrica de automóveis do mundo. Agora, seus 18 mil funcionários mostram-se empenhados numa competição muito particular que é a de transformá-la , na maior de todas, por direito. De acordo com um boletim que circula orgulhosamente nas mãos de muitos trabalhadores, e transcrito da revista Automotive News, há duas montadoras com capacidade maior que a Fiat. Uma é a fábrica da Volkswagen, em Wolfsburg, Alemanha, com capacidade para 746 mil veículos por ano. Em segundo lugar vem Avto VAZ, uma fábrica russa associada à Renault e localizada Togliatti, que é capaz de produzir 725 mil automóveis. Nenhuma delas, porém, alcançou sua em 2007, ficando ambas abaixo da fábrica mineira, que tem capacidade para 700 mil, mas foi além. Produziu 17 mil automóveis e pequenas picapes e furgões a mais do que era previsto. A expectativa é de que, por conta dos novos galpões que estão sendo montados e das prensas e robôs que estão sendo instalados, a produção alcance 800 mil carros em dezembro e a liderança seja conquistada por direito. Dois aspectos impressionam de modo especial os visitantes que percorrem as imensas instalações da Fiat, que é a maior indústria instalada em Minas. Um deles é a grande motivação estampada no rosto dos seus funcionários, que não fazem greve há 24 anos e indicam os nomes de quase todas as pessoas que ocupam os novos postos de trabalho na fábrica. O outro, é gigantesco canteiro de obras que se espalha por toda parte e que criou um tráfego tão intenso nas ruas internas da fábrica, que parecem rodovias de verdade. Diariamente 3,2 mil caminhões entram na fábrica, entre entrega de suprimentos no regime just in time e cegonhas para o abastecimento das concessionárias. Segundo um engenheiro da construtora Geraes, uma das muitas empreiteiras que trabalham no local, são 54 mil m² de construção, que envolvem 800 homens, 2,5 mil toneladas de aço, 45 mil toneladas de concreto e 80 mil metros quadrados de telhas industriais. Já foram instalados 20 robôs na área de pintura e outros 13 estavam chegando naquele dia para serem montados. A área de pintura é próxima do enorme galpão que está praticamente pronto para receber duas novas linhas de prensa, de alta cadência, com capacidade de produção de 16 peças por minuto ou 960 peças por hora. Também surpreende a ausência, na fábrica, de estoques ou qualquer coisa que lembre um almoxarifado. Há alguns anos, quando ainda produzia apenas mil carros por dia, a fábrica mantinha um estoque de 150 mil pneus e outro tanto de rodas, para garantir o cauteloso suprimento durante 30 dias seguidos. Hoje, em decorrência do programa just in time, o fornecedor entrega a autopeça na linha de montagem poucos minutos antes de ser instalada no veículo. E mais: os sistemas vêm completos. O fornecedor das rodas busca também os pneus e apresenta o conjunto devidamente montado e calibrado. O fabricante dos painéis que ficam diante do volante entrega tudo montado e testado, com velocímetros, relógios e fiação. Na verdade, o just in time não é uma idéia nova, só na Fiat em Minas Gerais já completou 15 anos. A novidade é a complexidade cada vez mais intensa. Hoje, as linhas de montagem da fábrica produzem simultaneamente 13 modelos com mais de cem versões diferentes. É uma operação colorida e sem erros, pois a um Palio vermelho se segue um Stilo amarelo ou um Punto azul. Não existe fábrica no mundo com essa diversidade, segundo Cledorvino Belini, que hoje preside não apenas a montadora mas todo o grupo Fiat no Brasil, com suas 15 empresas diferentes, incluindo fábricas de tratores, caminhões e colheitadeiras. A jurisdição de Belini se estende por toda a América Latina, incluindo a Argentina e mais África do Sul. O dirigente vai à Argentina este mês para reabrir a fábrica localizada em Córdoba, onde, desde fevereiro já é produzido experimentalmente o modelo Siena. Naquele país serão fabricados 50 mil veículos por ano, mas a fábrica pode chegar a 150 mil, segundo informou. No entanto, foi adiada a produção da picape Tata, que seria montada em associação com essa fábrica indiana. A adoção do just in time operou um milagre na empresa, que foi planejada para produzir 800 automóveis por dia e hoje já passa de 3 mil. Surpreendentemente o número de funcionários, que chegou a mais de 25 mil, caiu para 18 mil tudo por conta desse modelo de produção que transferiu a mão-de-obra e os estoques para seus 120 fornecedores instalados em volta da fábrica, numa distância máxima de 80 quilômetros da linha de montagem. Alguns fornecedores, como a Stola, entregam as carrocerias das picapes e do Dobló prontas para serem pintadas. A facilidade com que a direção da fábrica liberou o acesso da Gazeta Mercantil a todos os setores da linha de montagem mostra que a Fiat, hoje, não é uma indústria com muitos segredos. A empresa está convencida de que se antecipa ao desejo dos seus consumidores e lhes oferece, também os carros mais modernos e com os preços mais em conta do mercado. Naquele 26 de março dava para se avistar o luxuoso sedan Línea num galpão protegido por vidros especiais. O veículo será lançado em agosto e, aparentemente, não difere em nada do modelo que circula na Europa. A dúvida parece ser o motor. Na Europa o modelo é equipado com o motor 1.4, turbo e no Brasil é provável que utilize um modelo 1.6, que sairá da Tritec, a fábrica de propulsores localizada no Paraná e recentemente adquirida pelo grupo. É quase certo, também, que aquele unidade passe a produzir um motor com potência 1.8, que equipa o Stilo e é fornecido atualmente pela General Motors. Num galpão mais adiante, podia se avistar o novo modelo Palio, que vai entrar em linha ainda neste semestre. Belini não se mostra temeroso com seus competidores atuais. Sua preocupação é com o inimigo que ainda não mostrou as armas. São os chineses, que, nos próximos meses vão entrar no Mercosul, através do Uruguai, com um carro pequeno de 700 cilindradas. Será um veículo menor e ainda mais barato que o Uno Mille, com cota de 20 mil unidades anuais, de início. Segundo Belini, esse inimigo só será vencido se permanecerem as atuais regras da economia brasileira. Em outras palavras: nada de aumento de juros e muito menos de redução no prazo de financiamento. Hoje, da produção total da Fiat Automóveis, 250 mil são vendidos em prazo superior a 36 meses. A notícia de que o governo pretendia aumentar os juros e alterar os prazos de financiamento, deixou o executivo absolutamente contrariado. Belini afirmou que a proposta representa uma quebra de regras. Se esse assunto tivesse vindo à tona ano passado, diz, é provável que a Fiat não investisse os R$ 5 bilhões no País. 'Há países ávidos pelo capital internacional e iremos sempre para os lugares onde somos bem tratados', declarou. Na Fiat, a relação da empresa com os funcionários é tão decisiva para o sucesso da montadora quanto o seu inovador processo industrial. Só que, em relação aos trabalhadores o modelo parece o mais antigo possível, pois o emprego só é oferecido para quem é da turma. Em outras palavras: os manuais de recursos humanos recomendam a mais absoluta impessoalidade na hora da contratação de funcionários para evitar apadrinhamentos que prejudicam a eficiência da empresa. Pois a Fiat Automóveis, a fábrica que mais vende automóveis no Brasil não se envergonha de informar que age exatamente na base da indicação. Quase todos os seus 18 mil funcionários foram admitidos por indicação de pessoas influentes na empresa. 'Nós trabalhamos desse jeito há 24 anos e desde então não sofremos uma única greve. Além disso, nossos trabalhadores apresentam elevadíssimos índices de eficiência Não temos razão para mudar essa política', revela Osmani Teixeira de Abreu que, por 36 anos foi diretor de Relações Industriais da montadora e hoje a representa na Federação das Indústrias de Minas Gerais como Presidente do Conselho de Relações do Trabalho. Têm direito a indicar candidatos a emprego funcionários mais antigos que nunca apresentaram problemas ou criaram casos. Graças a esse bom comportamento, eles se credenciam a apresentar uma pessoa para as vagas que forem abertas. Pode ser um filho, irmão ou qualquer outro parente ou amigo. Mas antes de ser admitido, o indicado se submete a exame de seleção para confirmar sua competência para o cargo. Segundo Osmani Abreu, a idéia das indicações surgiu no distante ano de 1984, quando um empregado o procurou para se queixar que trabalhava na empresa havia muitos anos, mas jamais conseguiu indicar um parente ou amigo para as vagas que eram abertas. 'A Fiat só atende a indicação de políticos ou de gente poderosa aqui dentro', reclamou. O diretor de Relações Industriais considerou a queixa razoável, pois o funcionário era um bom empregado, cumpridor de suas obrigações e certamente iria indicar uma pessoa de confiança. Aos seus olhos, a indicação poderia ser muito vantajosa em relação aos candidatos convocados por anúncio em jornal. 'Nós desconhecemos os antecedentes de candidatos que respondem aos anúncios de jornais enquanto as pessoas indicadas sabem que não podem queimar o filme de quem o apresentou à empresa', lembrou. Desde sua adoção o programa cumpre sempre as mesma regras que são poucas. Quando se abre mil vagas, a Fiat oferece uma carta de indicação aos empregados mais antigos para que apresentem seus candidatos. Caso alguém seja reprovado a indicação é repassada aos outros da fila, até se recompor a lista. Há casos de funcionários que durante o longo tempo de trabalho na empresa já indicou três funcionários. Claro que a indicação não tem valor absoluto. Quando se necessita de técnico de grande especialização cujos requisitos não foram preenchidos no meio dos indicados, o setor de recursos humanos está autorizado, então a buscar o profissional no mercado. ''Temos exceções, sobretudo em cargos de gerência mas elas são poucas pois nossa política é a de prestigiar o funcionário, explicou. A empresa também não coloca parentes trabalhando numa mesma seção ou um chefiando o outro o indicado. A ausência de greve é apenas o lado mais visível do sucesso dessa política de relacionamento com o trabalhador. Ma há quem não goste nada dela. O presidente do Sindicato dos lúrgicos de Betim, Marcelino Costa, queixou-se recentemente de que a entidade tem quatro mil associados, dos quais menos de duzentos são empregados da montadora. Isso eqüivale a menos de 2% do total de funcionários da montadora, que é um número absolutamente irrisório. 'Nossa relação com a empresa é boa mas gostaríamos que ela respeitasse a liberdade sindical.' Osmani Abreu não considera adequada a visão do sindicalista. Para o ex-dirigente da empresa, a Fiat procura atender o trabalhador em todas as suas reivindicações, a começar pelos salários que estão entre os mais altos de Minas Gerais. A ausência de greve também não é vista apenas como uma questão trabalhista. Esse comportamento contribuiu para o sucesso da empresa, já que no passado montadoras paulistas enfrentavam greves, prejudicando o abastecimento do mercado. A Fiat aproveitou para cobrir o vácuo com seus produtos. [Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 7][Durval Guimarães]

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