domingo, 6 de abril de 2008

venda de automóveis - Furacão financeiro mundial poupa economias à antiga. Brasil é uma

Furacão financeiro mundial poupa economias à antiga. Brasil é uma

Eis uma grande lição da primeira crise financeira mundial do século 21: algumas economias à moda antiga estão agüentando a tempestade muito melhor que aquelas que tomaram muitos empréstimos para estimular o crescimento ou apostaram nos endividados consumidores americanos.Os Estados Unidos, a economia no centro da crise, estão puxando para baixo o crescimento mundial. Ontem, o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, deu sua avaliação mais pessimista da situação econômica do país até agora, sugerindo que uma recessão é provável.Mas em outros países o impacto da retração americana é menos claro.Países como Austrália, Brasil, Emirados Árabes Unidos e Catar ainda estão em franca expansão, embora menos do que em 2007, porque têm veios ricos de petróleo, ferro, alumina e cobre. Produtores de bens industriais à moda antiga, como Alemanha e Japão, também estão sobrevivendo ao problema porque diversificaram seus mercados para maquinário pesado.Enquanto isso, exportadores da Ásia que prosperaram debulhando protecionismo e negociando com os Estados Unidos - Tailândia, Filipinas, Malásia e mesmo China -, vêem seus índices de crescimento diminuírem, como na China. E os países bálticos, a Hungria e a Islândia, que tomaram muito empréstimo para financiar o crescimento, agora são observados pelas instituições financeiras internacionais para ver se não vão se desequilibrar com o aperto no crédito que começou com problemas no mercado imobiliário americano.Imagine a crise como um furacão. Ele se formou na Flórida, na Califórnia, em Nevada e em outros Estados americanos onde o mercado imobiliário desabou. Ganhou força à medida que títulos de investimento ligados a hipotecas provocaram perdas enormes em grandes instituições financeiras dos Estados Unidos e da Europa. Isso estremeceu a economia americana, secou o crédito nos EUA e em algumas partes da Europa, fez o Fed, o banco central americano, podar os juros e enfraqueceu o dólar. Agora aquele furacão financeiro está dando a volta ao mundo, demolindo alguns lugares enquanto deixa outros praticamente ilesos.A saúde da economia mundial vai estar no centro das discussões em Washington, na próxima semana, quando ministros da Fazenda se encontram nas reuniões do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, que começam dia 12.'A notável diferença entre este período de turbulência financeira e os do passado é o desempenho de países desenvolvidos e em desenvolvimento', disse o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, numa palestra ontem em Washington. 'Não só o epicentro do terremoto mudou [deixando de ser nos países em desenvolvimento], mas até agora os tremores sacudiram os mercados de maneira diferente.'Neste momento, a economia mundial parece estar numa posição melhor para sobreviver à desordem, mas essa previsão pode falhar se os EUA mergulharem numa recessão mais profunda e prolongada. A economia mundial deve crescer 3,8% este ano, em comparação com 4,7% no ano passado, segundo números a serem divulgados hoje pelo Instituto Peterson para Economia Internacional, de Washington.Países ricos em recursos naturais - como Rússia, Brasil e Austrália - parecem estar posicionados para continuar prosperando. O apetite crescente por commodities de China, Índia e outros países oferece aos produtores alternativas ao mercado americano e reduz a possibilidade de um crash das matérias-primas.Na Austrália, a Rio Tinto, gigante anglo-australiana da mineração, progride com uma expansão de US$ 1,8 bilhão de uma refinaria de alumina em Queensland, enquanto sua concorrente, a BHP Billiton, autorizou recentemente um investimento de US$ 850 milhões como parte de um grande projeto de gás natural na plataforma submarina do país.Na Rússia, um foco da crise financeira mundial do fim dos anos 90, autoridades do Kremlin agora propagandeiam que sua economia é um 'porto seguro', graças à alta do seu petróleo, gás e outras commodities para exportação. O Brasil, outros perdedor no fim dos anos 90, tornou-se um novo pilar econômico graças à escalada na demanda por minério de ferro, café e açúcar.Os juros brasileiros estão baixando depois de ficar na estratosfera por muitos anos. Maior disponibilidade de crédito tem dado aos consumidores um estímulo para comprar casas e carros e abrir pequenos negócios. No ano passado, a General Motors Corp. vendeu um recorde de 499.000 veículos no Brasil, ao mesmo tempo em que a empresa se debatia nos EUA. Grandes bancos americanos de investimento estão se expandindo no Brasil para aproveitar o número recorde de aberturas de capital e outras oportunidades.'Até agora, o consumidor brasileiro não foi afetado pela crise', diz Luís Largman, diretor financeiro da Cyrela Brazil Realty. Em julho passado, quando a crise do 'subprime' americano estava no começo, a Cyrela foi forçada a suspender uma emissão de títulos para investidores americanos. A construtora paulista deu meia-volta e captou o dinheiro, R$ 500 milhões, entre investidores brasileiros quase ao mesmo custo. Agora ela divulga recordes de venda.Para alguns produtores de matérias-primas, o maior risco é de superaquecimento. Produtores de petróleo do Oriente Médio estão colocando sua nova riqueza em estradas e aeroportos financiados pelo governo e no desenvolvimento de novos campos de petróleo e gás. Mas todo esse novo investimento alimenta a inflação, que é exacerbada pela vertiginosa queda do dólar, que torna mais caras as importações nos países do Golfo Pérsico que vinculam suas moedas ao dólar.No Catar, a inflação está em 14%. Nos Emirados Árabes Unidos, ela provocou uma série de protestos violentos de trabalhadores expatriados e enfurecidos com a redução do seu poder de compra. Em resposta, alguns governos da região suspenderam tarifas alfandegárias para importações de material de construção e alimentos e aumentaram os salários do funcionalismo em até 70%.Outros países podem enfrentar mais dificuldades - como a Turquia e partes da Europa Central e do Leste que tomaram muitos empréstimos nos mercados mundiais. A Romênia, a Bulgária, a Hungria e o trio báltico de Letônia, Lituânia e Estônia podem agora enfrentar uma escassez de crédito. Isso eleva a perspectiva de repetição da crise dos 90, quando a América Latina, a Rússia e o Sudeste Asiático não puderam pagar suas dívidas em moeda estrangeira, o que causou quebra de bancos e empresas e mergulhou economias em recessão.Um dos países em situação vulnerável agora é a Islândia. No fim do ano passado, sua dívida externa, principalmente com bancos, representava 430% do PIB. Com o aperto do crédito mundial, os bancos islandeses terão de pagar juros mais altos para tomar dinheiro no exterior a fim de emprestá-lo no mercado interno. Isso forçará as empresas e as pessoas a cortar seus endividamento e gastos. Os responsáveis pela política econômica do país dizem que a Islândia vai escapar da ruína porque os bancos ainda têm muitos fundos para honrar suas dívidas. Eles também dizem que a economia deve obter receitas de exportação depois de recentes investimentos na fundição de alumínio.Mesmo assim, a coroa, moeda do país, está sob forte pressão. O Kaupthing Bank anunciou estar avaliando uma possível ação legal contra o banco americano de investimentos Bear Stearns Cos. por divulgar uma análise que comparava a Islândia desfavoravelmente ao Casaquistão e por ajudar a organizar uma viagem de administradores de fundos de hedge à Islândia este ano. O banco islandês suspeita que a viagem pode ter sido parte das preparações para um ataque especulativo ao sistema financeiro do país, dizem pessoas familiarizadas com o pensamento no Kaupthing. Uma porta-voz do Bear Stearns preferiu não comentar o assunto.Exportadores asiáticos de bens de consumo também estão diante de uma desaceleração porque as economias deles são muito atreladas ao consumo dos americanos, que vem caindo. Mas é pouco provável a repetição da crise financeira dos anos 90 na região, porque os países asiáticos acumularam grandes reservas internacionais e têm farto superávit de conta corrente que podem usar para quitar sua dívida externa.Nos anos 80 e 90, a Tailândia saiu da pobreza atraindo empresas estrangeiras para fabricar lá câmeras, televisores e refrigeradores, vendidos depois para os EUA. Nos últimos anos, os exportadores tailandeses têm tentado livrar-se da dependência dos compradores americanos, mas isso não tem sido fácil. Por um lado porque exportadores da China, do Vietnã, da Malásia e de outros países asiáticos estão tentando fazer o mesmo, o que aumenta a concorrência. Por outro, os padrões de comércio internacional são tão complexos que é difícil redirecionar produtos para destinos determinados.Hoje, um componente feito na Ásia é quase sempre usado num televisor ou celular montado na China, que depois é vendido em outros mercados. A Hana Microelectronics PLC, de Bancoc, vende componentes eletrônicos para empresas americanas, que vendem produtos acabados ao redor do mundo. 'Vendemos para mercados internacionais por intermédio dos clientes americanos, por isso não há muito ajuste que possamos fazer. Não podemos mudar de um mercado para o outro', diz Terry Weir, diretor financeiro da Hana Microelectronics.Os fabricantes de baixo custo da China também estão com problemas para lidar com a situação. A queda do dólar torna as exportações chinesas mais caras nos EUA. Depois de subir 7% em 2007, o iuane já avançou mais 4,3% este ano. O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, declarou estar 'profundamente preocupado' com a economia americana. A indústria exportadora é uma fonte importante dos 50 milhões de novos empregos que ele prometeu criar nos próximos cinco anos.As empresas européias de bens de consumo também estão sentindo a mordida.As exportações representam em torno de 70% das vendas da Look Cycle International SA, com sede em Burgundy, na França, e os EUA são um dos seus maiores mercados. No fim do ano passado, a Look cortou 15% do preço em euro que cobrava da sua unidade americana, para que suas bicicletas não ficassem caras demais nas lojas dos EUA, apesar de o corte atingir os lucros da empresa. Agora que o dólar mal vale 63 centavos de euro, a Look nem se dá ao trabalho de trocar sua receita americana por euros e deixa os dólares num banco à espera de que eles se recuperem.Os países europeus que são grandes exportadores de bens de capital - máquinas e ferramentas pesadas - estão em melhor situação. Empresas da Alemanha, Suíça e partes da Itália conseguiram até agora amenizar os efeitos da valorização do euro procurando outros mercados além dos EUA. Diferentemente dos fabricantes europeus de bens de consumo, que enfrentam a concorrência dos produtores de baixo custo, os de bens de capital ainda conseguem contar com as vendas a mercados emergentes, em parte por causa da percepção de que têm melhor engenharia.Mais de 40% das exportações totais da Alemanha em 2007, de 970 bilhões de euros, foram de bens de capital.Fabricantes de bens de uso industrial do Japão também afirmam estar sobrevivendo à retração americana. Quando a economia americana teve sua recessão anterior, em 2001, a fabricante de ferramentas Mori Seiki, de Nagóia, registrou prejuízo pela primeira vez em décadas. Mas desde então diversificou seus clientes e desta vez prevê lucro, diz seu presidente, Masahiko Mori. Ele acha que a demanda de outros países vai compensar o desaquecimento nos EUA. 'Claro que o mercado americano ainda é importante', diz. 'Mas o aumento de nossos negócios nos Brics [Brasil, Rússia, Índia e China] e na Europa diversificou nosso risco.'[Marcus Walker, James Hookway, John Lyons e James T. Areddy, The Wall Street Journal, de Berlim, Bancoc, Cidade do México e Xangai- Colaboraram Patrick Barta de Bancoc, Chip Cummins de Dubai e Sebastian Moffett de Tóquio

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